Lisboa foi a votos e os resultados aí estão.
Para as eleições em Lisboa, houve cerca de 60% de abstenções. 60% que não votaram e, se calhar, muitos deles como um consciente cidadão - a banhos numa praia - que, ao ser instado a comentar as eleições e o facto de não ter votado, com ar de homem letrado e esclarecido, achou que não valia a pena perder tempo e o melhor era "aproveitar o bom dia de praia". Brilhante.
É deste tipo de pessoas que eu gosto, esclarecidas, clarividentes, e dispostas a defender a democracia.
Lá vou eu socorrer-me, mais uma vez, do meu tempo. No meu tempo, no meu tempo, bem no meu tempo, repito, era uma merda, uma grandessíssima merda. Quem defendia a democracia, não podia fazer campanha, ou melhor podia, mas era certo e sabido que ia parar ao xelindró, era preso, ou fugia.
Humberto Delgado candidatou-se a Presidente da República, os cidadãos que se batiam pela democracia lutaram e votaram pela sua eleição. A ditadura assassinou-o. A participação dos cidadãos e nos actos eleitorais autárquicos ou parlamentares, eram uma farsa, um verdadeiro logro. O povo português, de facto, não tinha direito a ter voto na matéria, a decidir sobre o seu país.
Quero eu dizer que o acto de votar implicava risco para a vida daqueles que queriam exercer conscientemente esse direito. O regime da ditadura, não queria que o povo votasse, havia quem o fizesse pelo povo. Tal e qual. Votavam mortos de há vários anos e votavam muitos que nunca tinham votado na vida. As descargas apareciam nos cadernos eleitorais. Milagre, alta tecnologia? Não. Trapaça pura e simples, coação, medo. As denúncias não chegavam ao conhecimento dos cidadãos, aliás, antes das eleições já se sabia quem iria ganhar. Porque haviam regras, se permitia campanha? Não. Precisamente por total ausência de regras e por intimidação aos cidadãos, por haverem "bufos", PIDE e intimidação.
No meu tempo? Desculpem-me o erro da expressão. O meu tempo é todo o tempo que a vida e a lucidez me dêem.
Vivo em democracia, tenho o direito de concordar ou discordar, de acordo com as minhas convicções, que não têm de ser as mesmas dos outros ou de outros.
Há cidadãos que se consideram conscientes, informados e esclarecidos colocando-se no alto do seu pedestal de convencidos, menorizando ou classificando de "carneirada" os que se dão ao "trabalho" de votar. E tecem loas, desenvolvem teorias. Arrogantes, numa pose, que vista através da fotografia, os fazem surgir aos olhos dos comuns, com fumo a sair dos seus notáveis crânios.
Pois, mas aconselhava-os a compararem o seu acto com o de muitos outros que não votam e as teorias que defendem; reflectirem sobre a igualdade do seu acto com a implacável e óbvia inconsciência de muitos outros que fazem o mesmo; a juntarem-se a muitos outros que fazem o mesmo e reunirem-se em congresso para aduzir da asneirada em que resultariam as respectivas conclusões.
Pois, mas aconselhava-os a compararem o seu acto com o de muitos outros que não votam e as teorias que defendem; reflectirem sobre a igualdade do seu acto com a implacável e óbvia inconsciência de muitos outros que fazem o mesmo; a juntarem-se a muitos outros que fazem o mesmo e reunirem-se em congresso para aduzir da asneirada em que resultariam as respectivas conclusões.
Muitos dos eleitores que se abstêm, nivelam-se por baixo, com base no argumento, na eloquência de quem está por cima.
A democracia vive das diferenças, das discordâncias, do diálogo, do debate, da intervenção, da participação e da decisão.
O acto de votar é um inequívoco direito e de dever. Principalmente daqueles que advogam a consciência e o não alinhamento.
Criticar de sofá ou na praia, com a sobranceria que caracteriza aqueles se louvam por essa prática, não é contribuir para mexer com o país e com as estruturas que nos representam.
É comodismo,.Por muito que exercitem em elucobradas elocubrações.
2 comentários:
Uma perguntinha só:
Quando dizes fumo a sair dos crãneos estavas a ver passar os comboios?
Não. de repente, os crâneos, perceberam que os comboios já tinham, passado...
Enviar um comentário